Algumas reflexões sobre o desenho infantil. Em minha experiência
profissional e lá se vão 22 anos, posso afirmar que concordo com Freinet
(1977) quando afirmou sobre os sucessos infantis dos desenhos.
Realmente tal motivação faz com que os pequenos repitam o mesmo desenho
por várias vezes. Interessante que proponho desenho livre diariamente e
percebo que Gabrielly (4 anos) que agora desenha árvores, as repete
sempre e Pyetro Emmanuel (5 anos) que aprendeu a desenhar coelhos aos
quais eu chamo de “Pernudos” os repete frequentemente também,
independente de qualquer outra motivação com histórias, imagens,
ilustrações do Livro da Vida. Os coelhos pernudos de Pyetro E. estão
sempre sendo aperfeiçoados, assim como as árvores de Gaby.
Depois
surge uma semelhança, nasce o primeiro êxito, que a criança repetirá
até o automatismo. Seguir-se-ão outras tentativas, obter-se-ão outros
êxitos, as tentativas falhadas serão automaticamente abandonadas
(FREINET, 1977, p. 23).
Outro autor que também respeito pelos seus estudos, Lowenfeld (1977) me
faz crer o quanto sentem-se felizes as crianças enquanto desenham e
quantas possibilidades os educadores atentos têm quando sentam-se junto
delas. Ás vezes ouço pequenas histórias, músicas delas enquanto
desenham. Um momento de puro prazer, sem dúvida alguma.
O
desenho representa muito mais que um exercício agradável, no período
infantil. É o meio pelo qual a criança desenvolve relações e concretiza
alguns dos pensamentos vagos que podem ser importantes para ela. O
desenho livre torna-se uma experiência de aprendizagem. (LOWENFELD,
1977, p. 159).
É importante que não coloquemos os carros na frente dos bois, ou seja,
que não hajam regras para que a imaginação aliada à coordenação motora
se desenvolvam e permitam os riscos, rabiscos garatujas infantis.
[...]
por este processo sem regra preestabelecida, sem cópia de modelos, sem
qualquer explicação exterior, a criança atinge experimentalmente o
domínio do desenho” (FREINET, 1977, p. 28).
Há uma certa experiência própria que venho contextualizando através de
pesquisas e ações sobre o desenho infantil: Em 2010, numa turma de
crianças de 4 a 6 anos me deparei com uma garotinha já com quase seis
anos que me parecia desmotivada ao desenho. Mas como assim, pensei?
Sempre incentivei o desenho livre às minhas crianças, então um belo dia
precisávamos da ilustração de uma galinha para um plano de trabalho e
ela num primeiro momento entusiasmou-se em ser a ilustradora, mas na
hora “H” disse: _”Eu não sei desenhar galinha”. Para que o seu
entusiasmo não se perdesse, para que o senso de responsabilidade fosse
ali cumprido, para que a solidariedade dela com a turma trouxesse
sucesso ao plano de trabalho sentei-me com ela e perguntei se já tinha
visto uma galinha e ela disse que sim, que conhecia galinhas. Então,
peguei uma folha de papel e lápis coloridos e disse a ela que
tentássemos desenhar. Sem pensar em regras e técnicas de desenho fui
fazendo algumas indagações: “A galinha tem cabeça, corpo, patas”? É
grande a sua cabeça, quantas patas ela tem, como é a sua boca? E outras
mais, pausadamente. Pedi então que ela começasse a galinha como ela
lembrava-se ao tê-la visto. E não é que a galinha “nasceu”? Nasceu
também um sorriso grande no rostinho desta menina: um sorriso de
satisfação, sucesso, autoestima. Freinet (1977) e Lowenfeld (1977) estão
absolutamente corretos quanto ao automatismo, o sucesso fortalecido, a
tarefa agradável que é o ato de desenhar e como contribui para a
concretização de pensamentos e por consequência, de conhecimento e
aprendizados.
Portanto, o método da expressão livre, conforme afirma Freinet (1977)
não é uma simples fórmula de arte espontânea onde o educador se limita a
observar e a deixar seguir. O educador precisa intervir, mediar,
incentivar e assim motivar as crianças em todo aprendizado. Afinal como
pedagoga o que mais me encanta é a sensação de conduzir as crianças,
rumo a novos horizontes, pensamentos, aprendizados, ou seja, de dever
cumprido e incessante no cotidiano escolar.
REFERÊNCIAS
FREINET, Célestin. O Método Natural II - A aprendizagem do Desenho. Lisboa, Editorial Estampa,1977.
LOWENFELD, Viktor. A criança e sua arte. São Paulo: Mestre Jou, 1977.
STACH, Karin. Conte outra vez: Contos Rítmicos. São Paulo, Editora Antroposófica, 2012.





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